quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Oscar


Em 104 anos de vida dá para fazer muita coisa. Mas não dá para fazer Brasília, Curitiba, Niterói, Copan, Memorial da América Latina, Ibirapuera, Oca, Argélia, Paris, ministérios, fábrica de biscoitos, igreja, panteões, caminhos, hotéis, casas, edifícios, hospitais, marquises, catedrais, parques, centros culturais, mesquitas, praças, auditórios, pontes, passarelas, sambódromos, rampas, universidades, colégios, terminais de ônibus.

Um só não faz tudo isso, nem se viver mil anos. Só se for um louco, louco o bastante para transformar o que é reto em curva, sonhar uma cidade-monumento e erguê-la, imaginar espaços vazios cheios de graça, beleza e arte.
E ateu. Ateu o bastante para crer que nada mais há depois da morte, então que se faça tudo em vida, e Oscar Niemeyer fez. Recusou-se a morrer por 104 anos, porque eternidade é uma falácia, melhor não contar com ela.
E assim foi, mas felizmente nisso Oscar estava equivocado. A eternidade há, não para seres vivos como ele, que uma hora pifam, disso ninguém escapa, mas para aquilo que seres vivos como ele são capazes de deixar. Assim se vive eternamente: deixando algo.
Oscar Niemeyer passou 104 anos desenhando e construindo a eternidade. Conseguiu.
( Publicado originalmente no blog do Flavio Gomes, em 05/12/2012)

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