quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Carta ao pai



Por Miruna Genoino

“A coragem é o que dá sentido à liberdade”

Com essa frase, meu pai, José Genoino Neto, cearense, brasileiro, casado, pai de três filhos, avô de dois netos, explicou-me como estava se sentindo em relação à condenação que hoje, dia 9 de outubro, foi confirmada. Uma frase saída do livro que está lendo atualmente e que me levou por um caminho enorme de recordações e de perguntas que realmente não têm resposta.

Lembro-me que quando comecei a ser consciente daquilo que meus pais tinham feito e especialmente sofrido, ao enfrentar a ditadura militar, vinha-me uma pergunta à minha mente: será que se eu vivesse algo assim teria essa mesma coragem de colocar a luta política acima do conforto e do bem estar individual? Teria coragem de enfrentar dor e injustiça em nome da democracia?

Eu não tenho essa resposta, mas relembrar essas perguntas me fez pensar em muitas outras que talvez, em meio a toda essa balbúrdia, merecem ser consideradas…

Você seria perseverante o suficiente para andar todos os dias 14 km pelo sertão do Ceará para poder frequentar uma escola? Teria a coragem suficiente de escrever aos seus pais uma carta de despedida e partir para a selva amazônica buscando construir uma forma de resistência a um regime militar? Conseguiria aguentar torturas frequentes e constantes, como pau de arara, queimaduras, choques e afogamentos sem perder a cabeça e partir para a delação? Encontraria forças para presenciar sua futura companheira de vida e de amor ser torturada na sua frente? E seria perseverante o suficiente ao esperar 5 anos dentro de uma prisão até que o regime político de seu país lhe desse a liberdade?

E sigo…

Você seria corajoso o suficiente para enfrentar eleições nacionais sem nenhuma condição financeira? E não se envergonharia de sacrificar as escassas economias familiares para poder adquirir um terno e assim ser possível exercer seu mandato de deputado federal? E teria coragem de ao longo de 20 anos na câmara dos deputados defender os homossexuais, o aborto e os menos favorecidos? E quando todos estivessem desejando estar ao seu lado, e sua posição fosse de destaque, teria a decência e a honra de nunca aceitar nada que não fosse o respeito e o diálogo aberto?

Meu pai teve coragem de fazer tudo isso e muito mais. São mais de 40 anos dedicados à luta política. Nunca, jamais para benefício pessoal. Hoje e sempre, empenhado em defender aquilo que acredita e que eu ouvi de sua boca pela primeira vez aos 8 anos de idade quando reclamava de sua ausência: a única coisa que quero, Mimi, é melhorar a vida das pessoas…

Este seu desejo, que tanto me fez e me faz sentir um enorme orgulho de ser filha de quem sou, não foi o suficiente para que meu pai pudesse ter sua trajetória defendida. Não foi o suficiente para que ganhasse o respeito dos meios de comunicação de nosso Brasil, meios esses que deveriam ser olhados através de outras tantas perguntas…

Você teria coragem de assumir como profissão a manipulação de informações e a especulação? Se sentiria feliz, praticamente em êxtase, em poder noticiar a tragédia de um político honrado? Acharia uma excelente ideia congregar 200 pessoas na porta de uma casa familiar em nome de causar um pânico na televisão? Teria coragem de mandar um fotógrafo às portas de um hospital no dia de um político realizar um procedimento cardíaco? Dedicaria suas energias a colocar-se em dia de eleição a falar, com a boca colada na orelha de uma pessoa, sobre o medo a uma prisão que essa mesma pessoa já vivenciou nos piores anos do Brasil?

Pois os meios de comunicação desse nosso país sim tiveram coragem de fazer isso tudo e muito mais.

Hoje, nesse dia tão triste, pode parecer que ganharam, que seus objetivos foram alcançados. Mas ao encontrar-me com meu pai e sua disposição para lutar e se defender, vejo que apenas deram forças para que esse genuíno homem possa continuar sua história de garra, HONESTIDADE e defesa daquilo que sempre acreditou.

Nossa família entra agora em um período de incertezas. Não sabemos o que virá e para que seja possível aguentar o que vem pela frente pedimos encarecidamente o seu apoio. Seja divulgando esse e/ou outros textos que existem em apoio ao meu pai, seja ajudando no cuidado a duas crianças de 4 e 5 anos que idolatram o avô e que talvez tenham que ficar sem sua presença, seja simplesmente mandando uma palavra de carinho. Nesse momento qualquer atitude, qualquer pequeno gesto nos ajuda, nos fortalece e nos alimenta para ajudar meu pai.

Ele lutará até o fim pela defesa de sua inocência. Não ficará de braços cruzados aceitando aquilo que a mídia e alguns setores da política brasileira querem que todos acreditem e, marca de sua trajetória, está muito bem e muito firme neste propósito, o de defesa de sua INOCÊNCIA e de sua HONESTIDADE. Vocês que aqui nos leem sabem de nossa vida, de nossos princípios e de nossos valores. E sabem que, agora, em um dos momentos mais difíceis de nossa vida, reconhecemos aqui humildemente a ajuda que precisamos de todos, para que possamos seguir em frente.

Com toda minha gratidão, amor e carinho,

Miruna Genoino - 09.10.2012

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Chávez diz o que a imprensa brasileira não gosta de ouvir


A América do Sul, e especialmente a Venezuela, vive um momento histórico. A reeleição do presidente Hugo Chávez no último dia 07/10 significa não apenas o aval, dado pelo povo daquele país, para que se aprofundem as conquistas sociais da chamada Revolução Bolivariana. A vitória de Chávez significa também a oportunidade de fortalecimento do Mercosul – bloco formado por Brasil, Argentina, Uruguai e recentemente Venezuela (admitida após a expulsão do Paraguai, consequência do golpe institucional que tirou Fernando Lugo do poder). Juntos, estes quatro países se tornam uma das maiores potências energéticas e alimentares do Planeta.

O ingresso da Venezuela amplia as potencialidades do bloco, dando-lhe maior dimensão geopolítica e geoeconômica. Como disse a presidenta Dilma Rousseff, "de agora em diante nos estendemos da Patagônica ao Caribe". Com o ingresso do país vizinho ao bloco, o Mercosul passa a ser a quinta potência econômica mundial, contando com 270 milhões de habitantes (70% da população sul-americana) e com um PIB superior a 3,3 trilhões de dólares, correspondentes a 83% do PIB da América do Sul.

Ninguém precisa ser economista para perceber que a entrada da Venezuela no Mercosul é positiva ao Brasil sob vários os aspectos. Mas os jornalistas ligados às oligarquias midiáticas parecem não compreender conceitos básicos de soberania e autodeterminação. Na falta de argumentos factíveis contra o crescimento da região – concomitante ao declínio da Europa (em crise após décadas de espoliação neoliberal) – os jornais preferem atacar o governo Chávez.

Não são críticas civilizadas, mas ataques abaixo da linha da cintura. Quando não usam de ironia para mascarar o tom racista das críticas pessoais ao presidente mestiço, fazem afirmações levianas como: "Na Venezuela não há liberdade de imprensa"; "A ditadura chavista censura jornais e prende jornalistas"; "Chávez usa de violência contra opositores". Estas são algumas das ideias difundidas pelos meios de comunicação no Brasil, objetivando criar no Brasil um senso comum que não corresponde à realidade sobre este país irmão.

No vídeo abaixo, durante uma entrevista coletiva, um repórter do jornal O Globo questiona o presidente Chávez sobre as "perseguições à imprensa" na Venezuela. Sem pressa, mas com firmeza, o presidente venezuelano expõe as intenções melindrosas do funcionário do jornal. Explica o que representa, para os povos, a integração regional da América do Sul, defende Lula e mostra como a dita "imprensa livre" trabalha contra os interesses nacionais: "O Globo utiliza jornalistas para defender interesses particulares contra seu próprio país".


Um jornal que defendeu abertamente o golpe civil-militar de 1964 não tem autoridade moral para falar em nome da liberdade de imprensa e da democracia.