Gosto, mas não sou um profundo conhecedor da música instrumental brasileira. Neste universo tão vasto de timbres diversos e instrumentistas geniais, o Zimbo Trio tem um espaço de destaque no meu acervo. Acho que poucas coisas no mundo conseguem ser tão estimulantes e modernas quanto o som do Zimbo Trio. Porém, curiosamente, se eu tivesse que escolher um único disco instrumental para ouvir até o fim da vida - aquele velho papo da ilha deserta - não seria um disco do Zimbo Trio, mas do flautista Carlos Poyares.
Em 1965, Carlos Poyares lançou pela Philips o seu primeiro disco solo. Ele já era relativamente conhecido no meio por integrar o formidável Regional de Canhoto, mas foi com Som de Prata em Flauta de Lata que começou a ser visto como um músico diferenciado. O grande barato do álbum está no fato de que Poyares gravou todas as faixas tocando uma flautinha de folha de flandres. É incrível a sonoridade que ele consegue arrancar do brinquedo, mas em nenhum momento a proposta soa infantil. É um disco leve sim, mas de muita técnica. Talvez por isso seja tão agradável aos ouvidos. O repertório é delicadíssimo, formado por músicas como Apanhei-te cavaquinho, Canarinho teimoso e Língua de preto. E o acompanhamento do Regional de Canhoto está acima da média.
Muita gente confunde este disco com o que o mesmo Carlos Poyares gravaria dez anos depois, pelo selo Marcus Pereira:
Som de Prata, Flauta de Lata foi lançado em 1975 e com um nome muito parecido ao do primeiro trabalho solo - daí a confusão que muitos fazem na hora de buscar informações sobre ele. Este disco também é ótimo, mas traz um repertório completamente diferente e um pouco mais "adulto", por assim dizer. Pedacinhos do céu (a minha preferida), André de sapato novo e Doce de coco estão entre as maravilhas do repertório.
Vale a pena escutar a flautinha de lata de Carlos Poyares. Ele teve essa ideia muitos anos anos de Pato Fu gravar Música de Brinquedo. A diferença é que o primeiro era um virtuose e fez uma obra de extrema qualidade musical. Taí um disco bacana de se ter em casa.
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